sexta-feira, 6 de maio de 2011

MANDRAKE - Willian de Souza Domingues

O Porradão de 20 dessa semana traz uma entrevista com o rapper e empresário MANDRAKE - Willian de Souza Domingues , proprietário de um dos sites mais importantes da cena do Hip Hop Brasileiro .

"Mandrake no debate, pra falar verdade, o RAP faz sua parte e joga na mira os covardes, as fita podre o lado oculto tem que ser narrado, sem vista grossa e sem passar pano pro errado, eu não me calo, perante a opressão do estado, sou radical no que vivo, o que faço e o que falo" Gangsta Rap Nacional - Realidade Cruel e Mandrake.



01 - Como você conheceu o rap?

Muitas das minhas recordações de infância têm o rap como fundo musical. Isso era tão natural, que não consigo me lembrar quando foi a primeira vez que eu ouvi. Cresci ao lado de um tio, cinco anos mais velho. Com ele aprendi a andar de skate, ouvir boa música e até algumas coisas nem tão corretas assim.
Até aí o rap para mim era só mais um tipo de música. Com 14 anos de idade fui num show do Racionais MC's, em Osasco. Uma apresentação histórica, com o Mano Brown na cadeira de rodas. Desse dia em diante passei a olhar o rap com outros olhos. Nem sei explicar direito o que aconteceu, mas a partir daquele show o rap passou a fazer parte da minha vida. Tanto que hoje carrego uma tatuagem no braço direito "Rap Nacional".
Infelizmente, em 2001 meu tio se foi. Mas me deixou de herança o amor pelo rap nacional (escute a música "Minha dor" no meu myspace).

02 - Quando você resolveu trabalhar com o rap comercialmente?

A minha intenção nunca foi ganhar dinheiro com o rap. Eu criei o PORTAL RAP NACIONAL para divulgar o movimento, dar oportunidade para que os grupos pudessem mostrar o trabalho que desenvolvem e informar a galera sobre os shows que rolavam. Com o passar dos anos o blog se tornou um Portal e cada vez mais está crescendo e se profissionalizando. Para nos mantermos no mercado e fazermos um trabalho de qualidade, como o público do rap merece, temos vários custos. Precisamos de bons computadores, conexão rápida com a internet, máquinas fotográficas e profissionais qualificados. Por este motivo, não podemos fazer tudo de graça. Há vários espaços no site que são gratuitos. Mas, também temos espaços publicitários, assim como todo veículo de comunicação. Esse dinheiro é usado principalmente para manter o site. Para sustentar minha família eu trabalho como editor de artes em duas empresas, um jornal diário e uma editora que produz três revistas por mês. Eu não vivo com o dinheiro que entra no portal.

03 - Em geral, quem ganha dinheiro com o rap é chamado de mercenário. Você está no rap por dinheiro ou ideologia?

Em primeiro lugar, eu não acho que quem ganha dinheiro com rap seja mercenário. Quem tem talento, se preparou e está conseguindo se destacar, tem mais é que faturar com isso. Afinal, a maioria tem família e responsabilidades a cumprir. O rap tem que ser visto de forma profissional e todo bom profissional merece ganhar dinheiro com o que faz. No meu caso, se eu fosse analisar o tempo que eu dedico ao Portal RAP NACIONAL e o que isso me rende financeiramente, já teria desistido há muito tempo. Como já falei, eu trabalho em dois outros empregos. Nas horas livres, deixo de estar com a minha família, de curtir meus filhos pequenos, para ficar na frente do computador atualizando o site. Eu não estou por dinheiro. Mas, se as coisas fossem diferentes e eu conseguisse faturar no site o suficiente para o meu sustento, não seria hipócrita em dizer que rap e dinheiro não combinam.

04 - Você consegue viver do seu site?

Durante muito tempo eu vivi com o que faturava no Portal RAP NACIONAL. Só que naquela época eu era moleque, morava com meus pais em SP, não tinha com o que me preocupar. O pouco que sobrava já era suficiente para eu me manter. Hoje em dia é diferente... Porém, tenho esperança que o rap se profissionalize cada vez mais. Quem sabe um dia eu consiga me dedicar novamente só ao Portal RAP NACIONAL.

05 - Quando você faz uma crítica a algum grupo como eles se comportam?

Não somos críticos musicais. Somos profissionais de comunicação. O nosso papel é levar a informação até o público e ele é quem decide se o trabalho é bom ou ruim. No Portal RAP NACIONAL, através dos comentários, os leitores se sentem a vontade para elogiar ou criticar as matérias que são publicadas. O público participa mesmo, em alguns casos chegamos a ter mais de 200 comentários em menos de 24h.

06 -Você está lançando uma revista dentro de um mercado difícil. Como espera viabilizá-la?

Essa é uma pergunta que me faço todos os dias. Está complicado conseguir colocar a revista nas ruas. Já temos o material todo pronto, a primeira será um especial sobre o Big Ben Bang Jhonson, entrevistamos o Mano Brown e todos os integrantes da posse, além disso a n°1 conterá vários outros conteúdos inéditos. Estamos à procura de parceiros e apoiadores para concretizar esse projeto.

07 - Como é a relação com cada site concorrente e como acha que cada um deve se comportar?

Respeito acima de tudo é uma fórmula que funciona para tudo na vida. E nesse caso não é diferente. Acho que cada um tem que cuidar do seu próprio trabalho e se preocupar com o conteúdo que apresenta. Tem muita gente que tá preocupado com o que sai ou deixa de sair no Portal RAP NACIONAL. Ninguém vem falar nada diretamente para mim, mas vejo umas indiretas via twitter. Só que nem me estresso com isso, tenho coisas bem mais importantes para me preocupar.

08 - Qual é o melhor site de rap do Brasil? Por quê?

O Portal RAPNACIONAL. E, não é porque os outros não são bons, todos têm feito um belo trabalho. Mas, com muita dedicação nós conseguimos atingir um nível diferenciado. Temos o melhor e mais amplo conteúdo, entrevistas exclusivas, videoclipes em primeira mão, músicas inéditas para download, entre outras informações que são atualizadas 24h por dia. Eu afirmo, categoricamente, que o Portal RAP NACIONAL é hoje o mais importante veículo de comunicação do hip hop, não só na internet. Prova disso, é o fato de grupos e artistas já consagrados no cenário nos procurarem para divulgarmos os novos trabalhos. Já faz tempo que todos os lançamentos passam primeiro pelo RAP NACIONAL e isso tem incomodado muita gente.

09 - Quem é Mandrake?

O Mandrake é um cara que acredita no rap e que vive isso 24h por dia. Que ama muito a família que construiu e descobriu que ser pai é a maior realização de todas. É também uma pessoa que não fica sentada vendo a vida passar. Corre atrás de cada objetivo, porque aprendeu cedo que toda vitória é feita de obstáculos

10 - Como vê o rap hoje?

O público do rap é muito conservador. Mas, não podemos ter preconceito com o novo, com o que ainda não estamos acostumados. Tem muito rapper que pensa na frente, que consegue fazer músicas inovadoras e o público ainda não está preparado para isso. Uma evolução musical é necessária, não podemos ficar parados no tempo. O discurso tem que ser autêntico e com rimas inteligentes. Acabou o tempo que para um rap ser bom precisava falar de violência, tristeza e tragédia.

11 - Como você vê a cena do rap feminino?

As mulheres que fazem um trabalho sério e talentoso têm o mesmo espaço que os homens. Tem muita mina que já conquistou seu espaço. Temos aí as guerreiras do Atitude Feminina, Kamila CDD, MC Flora Matos, Dona Kelly do Ao Cubo, Karol do Realidade Cruel, Nega Gizza, entre outras. Sem falar é claro da saudosa Dina Di, que sempre será lembrada como um dos grandes talentos do rap nacional.
Não gosto dessa denominação "rap feminino". Rap é rap indiferente de sexo. Não adianta se fechar e ficar reclamando que o rap é machista. O público aceita bem músicas feitas por mulheres. Mas, a verdade é que poucas conseguiram atingir um nível profissional.
E, ao contrário do que muita gente pensa, isso não é um problema. Há algum tempo fizemos uma pesquisa que apontou que 96% das pessoas que ouvem rap são homens. Consequentemente também teremos mais homens cantando rap. E isso não é machismo.

12 - Você acha que para fazer parte do rap é preciso fazer trabalhos comunitários e sociais?

Não. Acho que rap é música e deve ser encarado dessa maneira. Quem consegue fazer as duas coisas, maravilha. Mas, isso não pode ser encarado com uma exigência.

13 -Qual a diferença entre o rap de hoje e o rap de 15 anos atrás?

Naquela época não existia internet, o acesso a bases era difícil, a divulgação era feita de mão em mão. Quem conseguia produzir um videoclipe não tinha para quem mostrar. Atualmente, tudo está mais fácil. Mesmo com um computador meia-boca é possível fazer ótimas produções. Você grava um som hoje e joga na rede. Em menos de 24h o país inteiro já conhece a música. Outro lance legal é a troca de experiências com outros artistas. Através da internet um cara lá de São Luis do Maranhão grava um som e manda por e-mail para um parceiro do Rio Grande do Sul, que ouve e grava a segunda parte. Isso é muito louco, há 15 anos não imaginávamos que isso seria possível.

14 - Qual é a contribuição o seu site traz para o rap?

Trabalhamos em prol de uma das maiores carências do rap nacional que é a divulgação. Tem muito grupo bom espalhado pelos quatro cantos do país que não consegue fazer com que suas músicas cheguem até o público. O Portal RAP NACIONAL faz essa ponte.
É gratificante receber e-mails de gente que mora no interior de Alagoas, na Amazônia, na Paraíba e até de outros países, agradecendo por levarmos informação até esses lugares. Receber e-mails de rádios comunitárias espalhadas pelo Brasil dizendo que usam o portal com fonte. Essa é a nossa contribuição.

15  -  Quais são os cinco grupos de rap que você acha ideal para uma família e para os jovens se espelharem e seguirem e o porquê desta escolha?

Dizer que fulano serve de exemplo para alguém se espelhar é muita responsabilidade. Uma coisa é o cara ser um bom rapper, outra é ter atitudes corretas no dia- a- dia. Até porque todos cometemos falhas. Falar qual é ideal para ouvir com a família, também é muito relativo. Depende da família... Na minha casa toca todo tipo de rap. Mas, não adianta o cara ser fã de Facção Central e A286 e querer convencer a mãe evangélica a ouvir...

16  -Houve uma época em que os grupos de rap eram todos negros e seus nomes também tinham sempre algo relacionado. Você acha que isso não é mais importante?

Já ouvi muitos comentários por ser branco e de olhos claros. Havia uma época que parecia que eu era um intruso no rap. Até de nazista eu já fui chamado. Mas, isso foi no início. Hoje eu não enfrento esse tipo de problema. E, acredito que quem está começando agora não passará por isso.
Esse é um dos preconceitos que existia dentro do rap e que os próprios integrantes do movimento se conscientizaram e colocaram no chão. Afinal, não é a cor da pele que define o caráter de homem.

17 - Você acha que existe união no rap ?

É complicado assumir isso. Mas, a verdade é que não existe união. Isso é uma utopia. Salvo raras iniciativas, a maioria está preocupada com o seu próprio umbigo.

18 -  Ninguém acreditava que o funk fosse penetrar nas periferias de São Paulo, até que chegou e balançou a ponto de alguns grupos se converterem ao funk. Você acha que o rap deve mudar seu discurso para ser aceito comercialmente?

Eu não acho que o rap deva mudar o discurso para agradar ninguém. É claro que não dá para ficar falando as mesmas coisas sempre. Mas, isso é uma evolução natural.

19 - Você considera o rap um meio democrático? Como você enxerga a inserção de grupos gays de hip hop?

Podia vir com um papinho de que não tenho preconceito, que acho tudo muito normal. Mas, na verdade não é assim. Confesso que ainda to amadurecendo essa ideia de grupos de rap gay. Acho que isso, no futuro, será normal, mas por enquanto ainda não consigo ver isso com naturalidade.

20 – Qual você acha que é o futuro do RAP?

Nem Mandrake, o mágico conseguiria prever. Mas eu espero que o RAP NACIONAL tome de assalto a grande mídia, participe de mais programas na TV, queremos mais programas de rádios FM tocando RAP e empresas multinacionais apoiando. Que o RAP NACIONAL ganhe muito dinheiro, mas não esqueça suas origens e objetivos. Que onde for pregue a palavra certa e continue narrando vidas tristes e denunciando as atrocidades do sistema.
"Mandrake no debate, pra falar verdade, o RAP faz sua parte e joga na mira os covardes, as fita podre o lado oculto tem que ser narrado, sem vista grossa e sem passar pano pro errado, eu não me calo, perante a opressão do estado, sou radical no que vivo, o que faço e o que falo" Gangsta Rap Nacional - Realidade Cruel e Mandrake

Mais informações sobre o MANDRAKE acesse: www.rapnacional.com.br ou seguindo o cara pelo twitter: www.twitter.com/RAPNACIONAL

Ouça algumas músicas do MANDRAKE no:

- Myspace: www.myspace.com/mandrakerapnacional

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